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No dia do jornalista a classe tem pouco ou quase nada a comemorar

Em um mercado precarizado, com hostilização por parte de uma ala radical da sociedade, a falta de exigência do diploma acadêmico para exercício da profissão, salários bem aquém da média de outras áreas do conhecimento, fazer jornalismo nos dias atuais, é um verdadeiro ato de resistência.

Por Tiago Rego*

  • Hoje é dia do jornalista. A data foi instituída pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no longínquo ano de 1931. Historicamente, o Dia do Jornalista homenageia Líbero Badaró, que foi assassinado em 1830, no dia 22 de novembro, por inimigos políticos ligados a Dom Pedro I. De 1931 para cá, muita coisa mudou, desde o surgimento de faculdades dedicadas ao ensino do jornalismo até mesmo na forma de produzir informação. E quando se trata de jornalismo brasileiro, o jornalista profissional tem muito pouco ou quase nada para comemorar. Desde o período da ditadura militar (1964-1985), os jornalistas nunca foram tão atacados, como no governo de Jair Bolsonaro. Agressões por parte de seus guarda-costas e xingamentos de seus seguidores, são algumas das dificuldades que este tipo de profissional enfrenta para o exercício de seu ofício, sem contar na milícia digital, que assedia, expõe e ataca a honra daquele que tem como tarefa fundamental em uma democracia saudável, que é a de informar. Outro agravante, passa pelo processo de precarização do trabalho. Nas redações dos grandes veículos, por exemplo, o número de colaboradores é cada vez menor, numa proporção que, em alguns casos, é de cinco estagiários para um profissional. Quem perde com este cenário, evidentemente, é o cidadão que fica a mercê de informações sem a devida checagem e de qualidade duvidosa, justamente em um momento em que o combate à desinformação é fundamental, vide, no caso da pandemia pelo novo coronavírus, em que foi feita uma campanha massiva com o intuito de colocar em dúvida a eficácia das vacinas. Por tudo isso, com um mercado precarizado, com hostilização por parte de uma ala radical da sociedade, a falta de exigência do diploma acadêmico para exercício da profissão, salários bem aquém da média de outras áreas do conhecimento, fazer jornalismo nos dias atuais, é um verdadeiro ato de resistência.*Tiago Rego é jornalista formado pela Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia, especialista em comunicação digital e editor do site Sudoeste em Pauta.

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