Memória Jornalística

Luiz Inácio Lula da Silva: do cárcere ao Palácio do Planalto

Lula ficou 580 dias presos na cidade de Curitiba após ser condenado no âmbito da Lava Jato

Por Tiago Rego | Jornalista

  • O ano era 2014, e o Brasil começava a ser sacudido pela chamada Operação Lava Jato, que prometia ser implacável contra a corrupção política. De imediato, a Lava Jato recebeu total apoio da opinião pública, com destaque para a ascensão do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, que rapidamente foi alçado à condição de herói nacional. Naquele ano, a operação conduzida por Moro ainda não havia causado nenhuma fissura ao Partido dos Trabalhadores (PT), e a então presidente Dilma Rousseff, seria reeleita para mais um mandato de quatro anos, demonstrativo de toda popularidade e capital político de Luiz Inácio Lula da Silva, que até então, era quase que imbatível nas urnas. Por isso, entre os adversários de Lula, havia um consenso que era necessário manchar a imagem do PT e, para isso, a Lava Jato caiu como uma luva, luva esta que calçou em exata medida setores da imprensa corporativa. E, com um Congresso hostil, com o PT no epicentro da Lava Jato, com a economia brasileira se arrastando por conta do cenário global, criou-se o cenário ideal para o afastamento da presidente Dilma. Com imagem trincada, em 2016, o PT receberia seu primeiro golpe, que culminou no segundo processo de impeachment da história da República brasileira, no entanto, nem mesmo a destituição da sucessora e ungida de Lula foi capaz de atingir a popularidade do ex-metalúrgico, o que levou tanto a imprensa, quanto os procuradores da famigerada República de Curitiba, colocar o expoente petista no centro das investigações. A partir de então, o arsenal foi voraz — capas de revistas, telejornais temáticos, capas e mais capas de jornais, um powerpoint com acusações — e por parte da Polícia Federal (PF), a vida do torneiro mecânico foi completamente devastada, sem contar nas delações que foram minuciosamente escolhidas com o objetivo de condená-lo, mas mesmo assim, o ex-presidente, conforme apontavam as pesquisas, era favorito para ser reconduzido ao Palácio do Planalto, em 2018. Portanto, com ascendentes 41% das intenções de votos, só restava a Moro e sua trupe tirá-lo da disputa eleitoral. E o então juiz o fez. Lula foi condenado no âmbito da Lava Jato por suposta vantagem de um apartamento Triplex na cidade de Guarujá, no litoral paulista e, posteriormente, por uma reforma de um sítio, na cidade de Atibaia, condenação que foi confirmada também em segunda instância, que culminaria na prisão do petista no dia 07 de abril de 2018, o que resultaria na consequente perda de seus direitos políticos, o que pavimentou o caminho para que Jair Bolsonaro chegasse ao poder, pois mesmo preso, Lula liderava a corrida presidencial de 18.

    O renascimento – O hacker Walter Delgatti Neto, da cidade de Araraquara, invadiu celulares de inúmeros procuradores da Lava Jato, e revelou por meio do site The Intercept Brasil, uma verdadeira bomba, que explicitava os métodos nada republicanos utilizados pelos membros da força tarefa de Curitiba. Nas conversas obtidas por meio do aplicativo de mensagem Telegram, apontavam que o alvo da operação sempre foi Lula, como bem suspeitavam os aliados e advogados do petista. Por isso, não demorou muito tempo, a Lava Jato passou por um processo de desgaste como nunca visto, o que levou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, a anular os processos de Lula, ou seja, o ex-líder sindical, mais uma vez, estava no jogo. E não foi só isso: o ex-juíz Sergio Moro foi considerado parcial na condução do processo pelo STF, o que endossou a narrativa do PT de que Lula foi perseguido e condenado sem provas. Com este cenário, com a possibilidade de se candidatar novamente, e com seu principal algoz sendo considerado parcial, não demorou muito tempo a Lula despontar como franco favorito na disputa pelo Executivo nacional, mesmo ficando 580 dias preso, o que se confirmou realidade no triunfo obtido no último domingo (30), quando da Silva foi eleito para seu terceiro mandato, com mais de 60 milhões de votos, desbancando assim, a campanha bilionária do ainda presidente.

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