Persona livramentense

Digital influencer se tornou profissão reconhecida pelo Ministério do Trabalho; saiba como é a rotina da influenciadora Nanda Tanajura

"Eu não quero fazer uma 'publi' só por fazer, tem que dialogar com o que penso"

Por Tiago Rego | Jornalista

Os influenciadores digitais ou digital influencers (DI) impactaram tanto o mercado publicitário, que o Ministério do Trabalho no Brasil reconheceu a atividade feita por meio das redes sociais como profissão. Mas quem pensa que para ser um influenciador é só pegar um celular e sair tirando fotos, está redondamente enganado. Além de compreensão do funcionamento do algoritmo de cada rede, é necessário também reconhecer o público alvo, criar um conteúdo temático e cronológico, ter o mínimo conhecimento acerca de técnicas de fotografia, ferramentas de edição, além da elaboração de roteiro. E para saber um pouco mais sobre esse universo, o Sudoeste em Pauta – Notícias (SN) conversou com a livramentense e influenciadora digital, Nanda Tanajura. Modesta, Nanda disse que ainda está se descobrindo como DI, e que os temas para suas postagens brotam do seu fértil imaginário, em que mescla elementos que representam a natureza com alegorias lúdicas. E é exatamente por conta dos seus ímpetos criativos, que Nanda disse anotar todas as ideias em uma caderneta, pois de acordo com ela, tudo surge muito de repente. Quem passeia pelo seu feed, percebe que a jovem é muito antenada em moda e tem uma habilidade fora do comum para se maquiar, inclusive, o tutorial que ela fez sobre maquiagem é o seu vídeo mais popular no reels. A seguir, confira a entrevista com Nanda.

SN – Como você organiza seus conteúdos?

Nanda- Eu ainda estou, tipo assim (risos), estou me descobrindo como DI. Eu sei que é um trabalho como qualquer outro e eu ainda preciso me organizar mais. Então, eu acho importante estabelecer tipo uma agenda, uma rotina de postagens, que chamam de linha editorial – que você colocar suas postagens por dia e separadas por temas. Eu ainda preciso me organizar (risos), porque para mim é uma correria e dá muito trabalho (risos). Então, eu já tenho um caderninho onde anoto as futuras linhas editoriais, pois eu prefiro colocar tudo no papel, pois minha cabeça flui melhor quando eu escrevo. Eu gosto muito de escrever, pois sou muito literal, e eu tenho muitas ideias, mas às vezes elas se perdem em minha mente, por isso que tenho que colocar no papel. Então, as fotos, eu tenho que estabelecer um tema.

SN – Dentro desta linha, você já pensou em fazer um curso na área?

Nanda – Eu faço muitos cursos gratuitos na internet. Só que eu ainda não investi, eu até já fiz alguns de marketing digital focado nisso, mas eu ainda não investi em curso mesmo, mas penso, pois é um assunto que eu gosto. Eu gosto muito… Meu problema é isso, eu sou muito de estudar, pesquisar, pesquisar e, na hora de pôr na prática é que… Meu erro é esse. Eu sou muito de ler, ler, ler, ler, mas eu não ponho muito em prática as coisas que eu pesquiso, mas eu leio muito sobre o assunto. Quando eu gosto de um assunto, eu gosto de estudar a fundo, eu sou muito disso.

SN – Você já fechou parceria com alguma marca?

Nanda – Várias marcas já me procuraram. Teve uma vez que eu fazia uma parceria com uma empresa de chá, porque eu adorava chá (risos). E esta empresa é, tipo assim, é feminista, e eles tinham todo um conceito, não era simplesmente um chá, cada chá tinha o nome de um artista, e era um conceito todo feminista por trás. E aí, eles se identificaram comigo e a gente fez parceria um tempo. Foi muito bom. E tem um conceito por trás, o chá é feito por mulheres, e eu achei muito massa, foi a parceria que eu mais gostei. Porque eu não quero fazer uma publi (postagem patrocinada) só por fazer, tem que conversar comigo. Até porque, por eu ter esse problema de pele [Epidermólise Bolhosa] muitas pessoas se inspiram em mim. E eu não queria ser uma coisa fútil, vazia, sabe?


SN – Você pensa em dedicar sua vida exclusivamente em ser uma DI?

Nanda – Acho que sim. Sim, porque é uma coisa que eu gosto, eu faço por prazer. Quando eu tiro uma foto mesmo, eu faço porque eu gosto. Mas tipo assim, eu quero fazer, desde que a marca esteja alinhada comigo. E eu gosto muito, tipo assim, eu me sinto uma pessoa muito criativa, pois quando eu penso em algo, eu crio todo um conceito: e isso me ajuda e isso me atrapalha muito, pois eu sou muito perfeccionista, mas quando eu faço, quando vejo o resultado final, fico muito satisfeita.

SN – Você tem noção de quem te segue?

Nanda- Tenho, a maioria são mulheres. É (prolongado), a idade é bem variada. E a maioria são mulheres, de 25 a 34 anos, que é a minha idade também.

SN – O que seu público espera de você. O que eles querem ver?

Nanda – Eu sei, tipo assim, o que bomba mais, tipo, eu mesma. Tipo assim, quando eu tiro um tempo para mostrar a minha rotina ou então quando eu faço um ‘arrume-se comigo’, foi um dia que bombou muito, eles gostam de ver eu, sendo eu. E, às vezes, eu apareço pouco, mas eles são interessados em minha rotina. Eles às vezes me pedem conselhos, sabe (risos)? Conselhos sobre a vida. Tenho muitas conversas bem profundas sobre a vida pelo direct com muitos deles. Muitas conversas se tornam uma amizade, pois a gente compartilha experiências, sabe? É mais compartilhar experiências mesmo.

SN – Quais as áreas do universo digital que mais atraem sua atenção?

Nanda – Eu amo fotografia, não tem jeito. Eu amo fotografia, tipo, natureza, eu adoro fotografar natureza. Me fotografar também eu gosto, eu peguei muito pra esse lado da fotografia: pôr do sol, eu adoro (risos). Mas eu também gosto muito de maquiagem e moda. Mas não tem jeito, eu acabo indo para o lado da fotografia, sou apaixonada. Tanto é que eu tenho até medo do Instagram está assim, o Instagram agora está entregando muito vídeo, e, aí, eu gosto de produzir mais fotos. Só que eu percebi no meu Instagram, pois as pessoas falam que têm que ter tipo uma fórmula, mas eu acho que não existe uma fórmula. Uma fórmula para crescer no Instagram seria postar muito reels, mas as pessoas gostam mais quando eu posto fotos. Quando eu posto uma foto, eu tenho bem mais curtidas do que quando eu posto vídeo. Eu acho que meu público gosta mais de fotos.

SN – Quanto tempo você demora para fazer uma produção de um conteúdo?

Nanda – Ah, eu tiro uma tarde, uma tarde inteira. Eu gosto muito da luz do pôr do sol, pois para mim o melhor horário é das quatro horas da tarde. A partir desse horário eu gosto da luz. Pode parecer estranho, mas dá certo (risos). O dia do meu aniversário mesmo, foi umas 5 horas, a foto, e a luz saiu perfeita. Não sei (risos). E olha que quem tirou aquela foto foi minha mãe, as pessoas pensam que é fotógrafo, pois quem tira as minhas fotos são meus amigos e minha mãe. Mas como minha mãe trabalha muito, e meus amigos não moram aqui, eles moram em Salvador. Por exemplo, minha amiga acabou de mandar uma mensagem para mim, dizendo que está vindo o mês que vem; aí, quando ela estiver aqui, eu posso tirar foto com ela e tal, mas eu fico muito dependente dos outros, isso me atrapalha também.

SN – Você pretende usar seu alcance nas redes para se engajar em alguma causa?

Nanda – Eu quero muito me engajar na causa do meu problema de pele, da minha doença, Epidermólise Bolhosa. Eu quero muito que mais pessoas como eu se inspirem em mim, entendeu? Isso já acontece. Eu recebo muitas mensagens sobre isso também, meu Instagram é muito sobre isso também. Então, tem muitas meninas da minha idade e até mais novas que eu, que têm o mesmo problema que eu, que se inspiram em mim, e isso que me motiva a continuar no Instagram. Elas se inspiram muito em meu jeito de viver, tipo assim, que eu sou uma pessoa leve, que levo a vida de uma forma mais tranquila, que apesar de eu ter essa doença, eu consigo lidar. E isso me incentiva a continuar, elas se identificam comigo, é um processo natural, a ponto de eu ter feito amizade com uma menina do Reino Unido, e ela já desfilou para Vogue, e eu me inspiro muito em pessoas assim, ela é modelo profissional, e é um sonho que eu tenho também, o de modelar.

SN – Você acha que o Instagram artificializa as pessoas?

Nanda – Eu acho que o Instagram, sim. Tipo, eu acho que o Instagram molda muito as pessoas, às vezes eu não me sinto muito livre no Instagram para ser eu mesma. Eu acho que ele [Instagram] molda muito as pessoas, eu acho que têm outras redes que dão mais liberdade. Mas isso está se quebrando, isso está se perdendo. Hoje ninguém mais quer ver uma pessoa artificial, a gente quer ver a realidade, eu mesmo não gosto de ninguém artificial. Grandes influenciadoras, como Virgínia, ela mostra o dia a dia dela o tempo todo, eu acho que as pessoas querem muito ver isso. Ela mostra muito a realidade, está caminhando pra isso.

SN – Na sua opinião, qual o lado tóxico das redes?

Nanda – Têm muitas pessoas que vão lá disseminar ódio, fazer discurso de ódio, aqueles discursos de ‘hater’, muita notícia ruim, é muita coisa que você absorve na internet, não só coisas boas. Por isso, eu não consigo ficar o tempo todo no celular, eu tiro um tempo para ficar longe, para ficar lendo e tal, pois se eu ficar o tempo todo no celular acaba dando muita ansiedade, crises de ansiedade.

SN – Na sua opinião, o que atrai as pessoas para te seguirem? O que você tem de tão magnético?

Nanda – Eu cheguei a abrir uma caixa de perguntas para poder saber isso também (risos longos). Muita gente falou que é meu jeito de, tipo assim, a leveza, que a forma como eu levo a vida, foi a maioria das respostas que eu recebi. Porque eu também tinha essa curiosidade para saber o que as pessoas esperam de mim. Acho que a leveza, eles disseram muito isso, pois a gente está vivendo um momento tão pesado e, às vezes, é bom você ter um momento de leveza. É isso que procuro transmitir também.

SN – Você já pensou em deixar as redes sociais?

Nanda – Ah, já, sabe? Por conta disso, de às vezes ver muitas mensagens de ódio, muitas notícias pesadas, muita coisa que estava sobrecarregando minha mente, sabe? Isso acontece muito, a gente recebe muita informação, e o cérebro acaba ficando cansado. Isso que dá ansiedade, porque você fica lendo, lendo, lendo, lendo, e o cérebro não tem descanso, não tem descanso de jeito nenhum.

SN – Além do Instagram, você pretende entrar em outra rede?

Nanda – Então, eu estou tentando. Eu comecei a postar no TikTok, mas ainda não criei um hábito. Mas o TikTok é mais fácil de crescer do que o Instagram, viu? Meus vídeos lá já têm bastante visualizações. Lá eu tô começando, mas eu já tenho vídeo de 5 mil visualizações, mesmo não tendo essa quantidade de seguidores lá, é mais fácil de você crescer por conta do algoritmo, qualquer vídeo lá, a chance de viralizar é muito grande.

SN – Enquanto influencer, você faz algum tutorial?

Nanda – Ultimamente viralizou um tutorial meu. Esse tutorial, esse último que eu postei, enfim, foi meu primeiro tutorial, deu 18 mil visualizações, e eu não tenho esse número de seguidores ainda. E bombou! Então, eu pretendo postar mais tutoriais, pois foi o primeiro tutorial que eu postei e viralizou.

SN – Qual a mensagem mais especial que você já recebeu de seus seguidores?

Nanda – Ah, teve uma menina, eu estava pensando em desistir do Instagram e tal, e ela me mandou uma mensagem, que é até meio grande, e ela colocou assim: que ela começou a me seguir com aquele pensamento padrão, que é até um pouco capacitista, que a pessoa fala, ‘ah, ela é super guerreira’ e etc, mas conforme ela foi me acompanhando, conhecendo um pouco do meu dia a dia, é (prolongado), a minha doença, que ela escreveu entre aspas, passou a ser apenas um detalhe, apenas como se fosse uma pinta: ‘Eu vejo você uma mulher super vaidosa, que gosta de maquiagem, que gosta de cuidar do cabelo, que gosta de se vestir bem, de sair, de ter amigos, como uma uma mulher jovem que eu gosto de acompanhar. Uma mulher bonita, que sabe ser bonita, e que não se limita, e sabe que pode ser sexy, sabe que pode usar um decote, sabe que pode tudo, que o céu é o limite. Então, eu queria passar pra te dizer hoje, que eu vejo uma Fernanda mulher que você é, e que você é uma mulher poderosa, uma mulher para se admirar. E aí, eu superei muito dos meus pensamentos capacitistas conhecendo um pouco de você, cada dia estou me descobrindo cada vez mais.’Aí, eu fiquei muito feliz (suspiro longo). E eu recebo muitas mensagens assim, sabe?

SN – Você tem noção do impacto do seu conteúdo na vida das pessoas?

Nanda – Eu tenho, por isso, tipo, eu tenho muito cuidado com que eu posto, evito trazer tantas coisas negativas, apesar de fazer parte também da vida, não é? A vida não é só coisa boa (risos), mas eu tenho muito cuidado. Mas assim, quando eu não estou bem, eu desabafo (risos), mas tipo assim, não é tão recorrente. Até porque, é bom dividir, pois a gente acaba se ajudando.

 

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