Opinião

Ao queixar-se das atribuições do cargo de vereador, Cidão Aracatu esquece-se do clientelismo político que ele alimenta cotidianamente

Por Tiago Rego | Jornalista

  • Em sessão da Câmara de Vereadores de Livramento realizada nesta sexta-feira (13), o vereador Aparecido Lima (PL), o Cidão Aracatu, queixou-se das atribuições que seu cargo lhe confere. A lamúria foi motivada por um depoimento de um popular à Rádio Portal Sudoeste, que segundo palavras do próprio Cidão, o ouvinte afirmou que se juntar os quatro vereadores com reduto eleitoral em Iguatemi, não dá um. O testemunho do popular foi suficiente para que Aracatu abrisse uma torneira de lamentações, que quase comoveu, só que não, aos colegas parlamentares e aos espectadores que acompanhavam a assembleia pelas redes sociais. Disse, então, Cidão: “não sei os colegas vereadores do distrito de Iguatemi ouviu (Sic) alguma denúncia na Portal, falando que os quatro vereadores, se baterem no liquidificador, não dá um. Eu assumo toda a minha responsabilidade, quando está minha ‘ossada’ (Sic), mas responsabilidade do gestor, porque um dia falta água, um dia falta um remédio, em uma unidade de saúde… Eu acho que a população tem que se informar melhor qual é a função do vereador e qual é a função do prefeito. A função do vereador todos os colegas aqui sabem e a população, e quando uma rádio acata, eu acho que a rádio tem que acatar e dar a resposta imediata. Porque o vereador não tem o poder de compra, ele não é o Executivo, então para a sociedade, acaba boa parte ouvindo achando que o vereador não faz nada. Realmente, queria fazer muito mais, mas eu vejo que a função do vereador é muito além que ele é eleito: o vereador a função é fiscalizar, aprovar suas leis e acompanhar a administração de perto do prefeito”, descreveu atribuindo a responsabilidade aos meios de comunicação e a população de designação da função de vereança. E a choromela continua: “E incrível que o saco de pancada é sempre o vereador. Infelizmente tudo que acontece de errado no município o vereador ela paga o pato. 24 horas, a minha vida, 24 horas atender o telefone, tentar socorrer um daqui, tentar socorrer um dali, pra tentar mudar o cenário do meio político, mas ouvindo um tipo de denúncia sem cabimento enfraquece muito a gente”, completou. Em primeiro lugar, não é verdade que parte considerável dos cidadãos livramentenses sabem as atribuições de um parlamentar, muito pelo contrário, a maioria esmagadora não tem conhecimento político e nem muito menos obrigação em tê-lo, cabendo, portanto, aos seus atores, no caso dos próprios vereadores, conferir participação popular ao exercício de seus mandatos. A função de uma rádio, dentre outras, é de entreter, de informar e de amplificar os anseios de seus ouvintes. Em segundo lugar, Cidão Aracatu esquece-se do modus operandi que garante a ele uma cadeira no Legislativo livramentense que é o clientelismo, que consiste na prática de pequenos favores a um grupo de eleitores, como ele mesmo confidenciou, contribuindo assim, para formação dessa mentalidade, que reduz o papel do vereador ao provimento de pequenas benesses, prática esta que fica ainda mais escancarada em anos eleitorais — um exame aqui, outro acolá, uma receita na farmácia, uma passagem para tal lugar, e etc. — . Em terceiro lugar, fica a pergunta: o que nobre parlamentar tem feito? Será que ele não tem sido omisso em relação a gestão perdulária recheada de contratos milionários de Ricardo Ribeiro? Por que Cidão foi contra a abertura de uma CPI que pretendia versar sobre denúncia do uso de máquinas pesadas e outros equipamentos por parte da Prefeitura Municipal? O vereador tem promovido simpósios para educar a população sobre a função de vereança? Ou é mais fácil e conveniente atribuir a culpa à própria população e a uma rádio? Com a palavra, Cidão Aracatu.

     

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo