Coluna do Tiago

Ao conceder indulto a Daniel Silveira, Bolsonaro faz uso de mais uma cortina de fumaça para tentar esconder o desastre de seu governo

Por Tiago Rego | Jornalista

Há 3 anos e 4 meses no poder, já se pode cravar que o governo Bolsonaro é, sem dúvidas, um governo narrativo. E o bolsonarismo tem se mostrado extremamente competente em suas narrativas, pois mesmo o pior e mais desastroso governo de todos os tempos, segundo as médias das pesquisas, um terço da população brasileira ainda quer a permanência de Jair Bolsonaro (PL) por mais quatro anos. Isso graças a um sistema de distribuição virtual altamente capilarizado, rápido e ágil, que assim que um escândalo eclode envolvendo o Palácio do Planalto, lá estão as redes bolsonaristas, revertendo a atenção pública para temas que, na maioria das vezes, são irrelevantes. Um exemplo disso foi o escândalo dos remédios de viagra e das próteses penianas das Forças Armadas do Brasil, em que o jornalista Fernando Barros e Silva, da Revista Piauí, o denominou de “broxolão”. De imediato, para acortinar o fato, Bolsonaro voltou a subir o tom contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente Alexandre de Morais, alvo constante da milícia digital bolsonarista. E agora, a bola da vez, é Daniel Silveira, deputado federal eleito pelo estado do Rio de Janeiro. Para quem não sabe, Daniel Silveira ganhou visibilidade entre os bolsonaristas ao destruir uma placa de uma rua do Rio que leva o nome da ex-vereadora carioca Marielle Franco, que foi brutalmente assassinada em 2018. Ainda sobre Silveira, este por sua vez, já integrou os quadros da Polícia Militar (PM) fluminense, mas foi expulso por atos de indisciplina. E em seus anos como parlamentar, Silveira fez aquilo que de melhor sabe fazer: baderna. Só que desta vez, o ex-policial ultrapassou a linha do aceitável, quando ameaçou por meio de uma gravação de vídeo, a integridade física de Alexandre de Morais, o que lhe rendeu 8 meses de prisão. E por causa de seus atos antidemocráticos, o STF decidiu na última quarta-feira (20), que o bolsonarista deveria ser preso por 8 anos e 9 meses, além da perda dos direitos políticos por 8 anos, tal como determina a lei. Pronto. Estava montado o enredo, e Daniel seria o bode expiatório. E exatamente no dia 21 de abril, dia de Tiradentes, Bolsonaro concede a seu protegido o indulto presidencial, exaltando o princípio da liberdade, mote da Inconfidência Mineira, nada mais simbólico. A cortina de fumaça perfeita de um governo responsável por uma inflação galopante, pela fila do osso, combustíveis quase a preço de ouro e, sem contar, das mais de 660 mil pessoas mortas pela Covid-19, entre outras desgraças. Mas como bem cantou Chico Buarque, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia.” E será!

Tiago Rego é jornalista e editor do site Sudoeste em Pauta. 

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