Opinião

Não é que as pesquisas erraram: a matemática não consegue medir ódio

A dificuldade dos cientistas em amenizar a vã pretensão de prever o futuro reside no fato que a matemática, enquanto expressão da natureza, não consegue medir sentimentos, principalmente o ódio, principal ativo bolsonarista

Por Tiago Rego | Jornalista

  • Assim que o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais foi divulgado, com vitória do ex-presidente Lula (PT), impulsionado pela votação esmagadora obtida no Nordeste, comentários xenofóbicos inundaram as redes sociais. As pechas são as mesmas de sempre — que os nordestinos vivem de Bolsa Família, que não trabalha, que passa fome e etc. —, o que representa o sentimento de antagonismo extremo do fascismo bolsonarista, que enxerga no brasileiro nordestino alguém a ser eliminado, um inimigo que deve ser reduzido à condição de coisa. Até aí, nada de novo, até porque as pesquisas conseguiram captar que Lula sairia vitorioso na referida Região, mas não conseguiu cravar o crescimento de Bolsonaro (PL), quando o voto útil caiu na urna beneficiando o presidente, que obteve quase 44% dos votos, bem fora da margem de erro, o que deixou os analistas com os cabelos em pé. A dificuldade dos cientistas em amenizar a vã pretensão de prever o futuro reside no fato que a matemática, enquanto expressão da natureza, não consegue medir sentimentos, principalmente o ódio, principal ativo bolsonarista. O ódio que faz com que pessoas votem em um cidadão que se diz cristão, mas desdenhou das vítimas da Covid, quando chegou a imitar pessoas com falta de ar, de um político que já atacou inúmeras vezes os nordestinos oferecendo capim em uma rodovia ou quando os chamou de “povo de Paraíba”, expressão pejorativa usada para se referir tanto a retirantes do Norte, como do Nordeste, do ódio que não permite enxergar os piores índices econômicos da história do país, que empurrou mais de 33 milhões de brasileiros para a fome, do ódio às minorias — o que incluiu gays, mulheres, pretos, indígenas e pessoas com deficiência —, do ódio norteia ações de boicote ao Padre Júlio Lancelotti, que alimenta milhares de pessoas nas ruas de São Paulo, do que ódio que autoriza a dizer que refugiadas ucranianas são fáceis sexualmente porque são pobres, dos que vivem em uma Democracia, mas pedem ditadura militar.

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